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Goksung (2016)

Goksung (título original) ou O Lamento (em português), o novo filme do diretor e escritor sul-coreano Hong-jin Na (conhecido por Chugyeogja - O Caçador - 2008 e Hwanghae - 2010), já é considerado uma das grandes obras dentro do gênero de horror, abordando uma parte macabra da cultura oriental sobre lendas, maldições, espíritos malignos e misticismo, sendo inclusive um dos destaques no Festival de Cannes.

Coincidentemente após a chegada de um forasteiro, uma estranha doença começa a se espalhar na pequena aldeia de Goksung, desencadeando uma série de assassinatos brutais. O que a princípio parece ser apenas crimes passionais logo toma contornos mais sombrios, visto que todas as mortes ocorrem em circunstâncias misteriosas. Encarregado da investigação o policial Jong-Goo (interpretado por Do Won Kwak, conhecido por Ajeossi - O Homem de Lugar Nenhum - 2010) busca por pistas e explicações para os trágicos acontecimentos. Quando sua filha, Hyo-jin (interpretada por Hwan-hee Kim), começa a sentir os estranhos sintomas da doença, ele passa a lutar contra o tempo para resolver o misterioso caso e salvar a vida dela.


Com uma narrativa cadenciada, O Lamento nos apresenta uma história folclórica associada ao misticismo oriental e também ao oculto, marcada por elementos de mistério, terror e sobrenatural, como guardiões, demônios e xamãs, e com o desenrolar da trama gradualmente ganha contornos mais intensos e inquietantes. A qualidade técnica é um dos aspectos que se destaca no longa-metragem. A fotografia e a trilha sonora proporcionam uma combinação imersiva e envolvente, enquanto a ambientação, expressa pela chuva constante, pelo lamaçal, pela precariedade da pequena aldeia, pelas características marcantes de uma pequena cidade do interior, além da maquiagem e dos cenários de massacre, consolidam o ar místico e lúgubre do filme, ampliando o mistério e prendendo a atenção do espectador.

O roteiro trabalha bem com as expectativas, construindo alguns personagens de maneira dúbia, sem explicitar as suas reais intenções. Uma história relativamente simples nos é apresentada de maneira complexa e intrigante, onde cenas aparentemente sem grande propósito nos revelam muito, exigindo atenção aos pequenos detalhes, sejam eles símbolos do ocultismo ou referências religiosas (Bíblicas). Corvos e cabeça de bode são utilizados ao longo da narrativa, simbolizando a morte e o mal presságio e remetendo ao profano e à bruxaria. 


O filme consegue construir uma atmosfera de terror sem abusar dos truques típicos do gênero. Os momentos de humor são utilizados para tornar mais suave a abordagem de um tema que por si só já é bastante tenso. Aqui cabe ressaltar a ótima atuação de Do Won Kwak no papel caricatural do policial preguiçoso, atrapalhado e medroso, embora seja bem intencionado.

Com um trabalho competente do elenco, uma direção eficiente criando uma atmosfera que mistura mistério, terror e comédia além de proporcionar muita reflexão com um final aberto a diferentes interpretações e também por sua originalidade, O Lamento é um dos longas-metragens mais significativos dentro do gênero nos últimos anos. 


Título original: Goksung
Título em português: O Lamento
Diretor: Hong-jin Na
http://www.imdb.com/title/tt5215952/


Kollektivet (2016)

Kollektivet (no original) ou A Comunidade (em português), o novo filme do diretor Thomas Vintenberg (conhecido por Festen - Festa de Família - 1998, Submarino - 2010 e Jagten - A Caça - 2013), um dos fundadores do movimento cinematográfico Dogma 95, que busca a criação de um cinema mais realista e menos comercial, aborda uma família nos anos 70, formada pelo pai Erik (interpretado por Ulrich Thomsen, conhecido por Festen - Festa de Família - 1998 e Adams æbler - Entre o Bem e o Mal - 2005), pela mãe Anna (representada por Trine Dyrholm, conhecida por Festen - Festa de Família - 1998 e DeUsynlige - Águas Turvas - 2008) e pela filha Freja (interpretada por Martha Hansen). Erik herda a casa de sua família após a morte de seu pai, mas por considerá-la muito grande e com altos custos de manutenção está disposto a vendê-la. Contudo, sua esposa o convence a transformar a casa em uma espécie de coletividade, convidando alguns amigos e entrevistando até desconhecidos para dividirem as contas e compartilharem a nova moradia. Vivendo em grupo, como se fossem uma grande família, eles realizam jantares, festas e reuniões periódicas para que assuntos importantes sejam decididos democraticamente. Mas toda a utopia em torno deste experimento começa a ser questionada quando um caso de amor abala a pequena comunidade.


Kollektivet acerta ao retratar muito bem a época em que se passa a história: os anos 70 em Copenhague. O design de produção, o figurino e a caracterização dos personagens, expressos pelas roupas, cabelos e costumes, conferem credibilidade, ambientam e imergem o espectador na trama narrada. Mas o filme peca por não desenvolver bem os personagens que não fazem parte do enredo central. O diretor deveria ter explorado mais as cenas de conflito em grupo e o roteirista poderia ter elaborado melhor as dificuldades de convívio social que são inerentes à vida em coletividade. Da forma que foi escrito os atores coadjuvantes pouco agregam e a trama em paralelo sobre o amadurecimento de Freja frente à reflexão de tudo o que ocorre dentro da comunidade merecia ser melhor trabalhada.

O grande destaque fica por conta da atriz Trine Dyrholm, que recebeu o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim deste ano por sua excelente atuação. As cenas mais dramáticas e os golpes mais fortes que levamos no longa-metragem são protagonizados por sua personagem, Anna, uma apresentadora de telejornal. A representação da atriz convence não só por conseguir expressar as emoções nos momentos de alegria ou nos acontecimentos mais sombrios, mas pela naturalidade da interpretação, que chega a fazer com que o espectador se esqueça de que é apenas uma encenação.


Os desafios de convívio podem ser superados? Até que ponto um projeto de comunidade deve se sobrepor aos interesses individuais? O que é mais importante: o indivíduo ou o coletivo? A vida em coletividade é possível? Esses são alguns dos questionamentos que A Comunidade tenta introduzir, mas acaba abordando de forma superficial. O diretor Thomas Vintenberg tinha talento para produzir um filme com um resultado final muito melhor do que produziu.


Título original: Kollektivet
Título em português: A Comunidade
Diretor: Thomas Vintenberg
http://www.imdb.com/title/tt3082854/

Trailer legendado (com alguns spoilers):


Wie Brüder im Wind (2015)

O cinema possui bons filmes que contam uma história entre homem e animal. Dentre eles podemos citar: Born Free - A História de Elsa (1966), Brother of the Wind (1973)The Black Stallion - O Corcel Negro (1979), L'ours - O Urso (1988)Cheetah - Cheetah - Uma Aventura na África (1989), Fly Away Home - Voando Para Casa (1996), Duma (2005)Eight Below - Resgate Abaixo de Zero (2006)Le Renard et L'enfant - A Raposa e a Menina (2007), Life of Pi - As Aventuras de Pi (2012) e The Jungle Book - Mogli: O Menino Lobo (2016). Em Wie Brüder im Wind (título original; ainda sem título em português, mas que em tradução livre seria "Irmãos do Vento"), a história se desenvolve em torno de uma criança e uma ave de rapina, no ano de 1960, em algum lugar dos alpes austríacos. Na natureza a águia cria dois filhotes, sendo que o mais forte sempre acaba por jogar o mais fraco para fora do ninho. Assim, após ser arremessado pelo filhote mais velho para fora do ninho e cair no chão da floresta, o que seria uma sentença de morte para o filhote mais novo, ele é resgatado por Lukas (interpretado por Manuel Camacho), que passa a cuidar do animal selvagem em segredo. Com problemas de relacionamento com o seu pai, Keller (interpretado por Tobias Moretti, conhecido por Das Finstere Tal - O Vale Sombrio - 2014), o menino encontra amor e companheirismo na ave, apelidada de Abel. Mas quando chegar a hora de libertar a águia de volta à natureza, conseguirá Abel se integrar à vida selvagem e Lukas encontrar a sua própria libertação para uma nova vida?



A história é narrada por Jean Reno (conhecido por Léon - O Profissional - 1994), que interpreta o personagem Danzer, um guarda florestal que vive no local. O filme é dirigido pela dupla Gerardo Olivares e Otmar Penker em um estilo de semi-documentário. Seus grandes destaques são a fotografia, a trilha sonora e a mixagem de som. As imagens da vida selvagem são de tirar o fôlego, especialmente as filmagens feitas com a águia. Os ângulos das câmeras, inclusive a mini câmera instalada na própria águia, conseguem aproveitar toda a paisagem dos alpes austríacos, que é de encher os olhos. Nesse ponto Wie Brüder im Wind não deixa a desejar em nada quando comparado aos melhores documentários sobre natureza. Já a mixagem de som confere realismo à história narrada, imergindo o espectador na vida animal.

O ponto fraco do filme e que acaba comprometendo seu resultado final é o roteiro. Foca-se demais no melodrama da relação do menino com seu pai. Enquanto as cenas da vida selvagem são naturais, as sequências familiares são todas artificiais e forçadas. O trio de roteiristas (Otmar Penker, Joanne Reay e Gerald Salmina) erra ao tentar transformar a luta da águia pela sobrevivência em algo maior, fazendo um elo da história de Lukas e Abel. Os diretores e roteiristas deveriam ter focado apenas na natureza e na majestade da águia, que é a grande protagonista da trama narrada.



Título original: Wie Brüder im Wind
Título em português: ainda sem título
Diretores: Gerardo Olivares e Otmar Penker
http://www.imdb.com/title/tt3532278


The One I Love (2014)

Alguns filmes conseguem mostrar que o cinema não é feito apenas de grandes produções e que mesmo com baixo orçamento e sem grandes efeitos especiais é possível produzir um ótimo filme. Esse é o caso de The One I Love (título original) ou Complicações do Amor (título em português), primeiro longa-metragem do diretor Charlie McDowell. Com um roteiro original e filmado praticamente em apenas um cenário (uma casa de campo), o espectador é cativado pela história e pelos personagens principais de tal forma que aguardará ansiosamente pelo desfecho da trama. The One I Love nos faz lembrar de um outro grande filme no mesmo estilo e que também não teve o devido reconhecimento: Coherence (2013).

A história envolve um casal, Ethan (interpretado por Mark Duplass, conhecido por Safety Not Guaranteed - Sem Segurança Nenhuma - 2012) e Sophie (representada por Elisabeth Moss, conhecida pela personagem Peggy Olson na série de TV Mad Men - Mad Men: Inventando Verdades - 2007-2015), que fazem terapia para tentar superar a grave crise conjugal em que vivem. Após uma tentativa frustrada de redescobrir o amor através de um momento importante e feliz do passado, na iminência da separação, o terapeuta (interpretado por Ted Danson, conhecido por Saving Private Ryan - O Resgate do Soldado Ryan - 1998) sugere como último artifício na tentativa de salvar o casamento do casal que eles passem um final de semana em sua casa de campo. O que começa como um retiro romântico e divertido logo se torna surreal, quando uma descoberta inesperada obriga os dois a repensarem sobre eles mesmos, seu relacionamento e seu futuro.


Esse é o típico filme que quanto menos se sabe da trama melhor é a experiência para o espectador. Apesar de ser classificado como romance, drama e ficção científica, não há um gênero predominante, existindo também passagens de suspense e mistério na história. E aqui temos que ressaltar o trabalho do diretor e o ótimo roteiro de Justin Lader, que abordam um tema que não é novo (crise conjugal) de forma criativa e envolvente. Há uma profunda abordagem sobre as dificuldades de estar junto com alguém bem como sobre as expectativas que criamos com relação ao outro e também ao novo. Houve uma preocupação em manter os dois pontos de vista da trama (a visão do homem e a da mulher) em equilíbrio, e a história não força o espectador a pender para um dos lados. A trilha sonora é sutil e às vezes passa desapercebida, mas dá o tom necessário para os diversos momentos da obra.

Uma curiosidade revelada por Duplass (que além de ator também é diretor, escritor e produtor) nesta entrevista (em inglês), foi que apesar do roteiro ter 50 páginas e ser cuidadosamente detalhado, tanto nos movimentos quanto no que os personagens estão fazendo, não havia diálogo escrito. Assim, cada pedaço de diálogo no filme foi improvisado. Os atores estavam sendo tão naturais quanto podiam com suas motivações e a trajetória da cena e usando surpresas para que o outro não se acomodasse, tornando as atuações mais espontâneas do que se fossem ensaiadas. Cabe ressaltar que a dupla de protagonistas Duplass e Moss entrega ótimas atuações tanto individualmente quanto como na relação como casal. O espectador é envolvido na narrativa e tem a impressão de que está assistindo a uma história real, com conflitos e personagens reais.


O título em inglês do longa-metragem, The One I Love, que em tradução livre seria "A pessoa que eu amo", parece inocente e genérico, mas ganha novas conotações quando contrastado com a história em si e com o poster do filme. Uma pena que a versão da tradução dada para o título em português (Complicações do Amor) tenha perdido completamente essa característica.

Com algumas reviravoltas, uma trama inteligente e intrigante e um final propositalmente aberto, The One I Love o deixará pensando sobre as suas nuances. Este é um filme que provoca a reflexão e que certamente o aguçará o suficiente para voltar na história, seja para contemplá-lo em seus detalhes ou para tentar buscar algumas respostas para as dúvidas que ficaram no ar.


Título original: The One I Love
Título em português: Complicações do Amor
Diretor: Charlie McDowell
http://www.imdb.com/title/tt2756032/


The Shallows (2016)

Desde o clássico Jaws - Tubarão (1975) o cinema não contava com um filme de suspense envolvendo tubarão capaz de fazer o espectador se assustar e torcer pela protagonista de forma tão intensa. Dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra (conhecido por Orphan - A Órfã - 2009 e Unknown - Desconhecido - 2011) o longa-metragem The Shallows (título original) ou Águas Rasas (título em português) conta a história de Nancy (interpretada por Blake Lively, conhecida por The Age of Adaline - A Incrível História de Adaline - 2015), que vai surfar sozinha em uma praia paradisíaca e deserta no México, na qual a sua mãe visitou há décadas atrás. Após passar grande parte do dia surfando ela é atacada por um grande tubarão branco, ficando encurralada a 180 metros de distância da praia. Precisando correr contra o tempo e lutar por sua vida, a batalha pela sobrevivência exige de Nancy toda a sua habilidade, perspicácia e resistência.


Diversos são os relatos de ataque de tubarão ao redor do mundo, o que confere ainda mais drama à história narrada. Um caso recente que teve repercussão mundial ocorreu em 19 de setembro de 2015 durante a bateria final do Circuito Mundial de surfe, em Jeffreys Bays, na África do Sul. O tricampeão Mick Fanning foi surpreendido por um tubarão, que ao atacá-lo chegou a cortar a corda que prendia a prancha ao pé do australiano. Felizmente o episódio teve um final feliz e Fanning saiu ileso, conforme as imagens gravadas no dia.

Esteticamente Águas Rasas é impecável. O local escolhido para as filmagens é paradisíaco e a direção de fotografia de Flavio Martínez Labiano (também trabalhou em Unknown - Desconhecido - 2011) é belíssima. As cenas tanto dentro quanto fora d'água e as passagens de câmera aquáticas e aéreas criaram uma ambientação incrível, trazendo o espectador para dentro da trama. A utilização de câmeras não profissionais e as cenas de surf conseguem transmitir veracidade à narrativa. A direção de Jaume é atraente, cativante e ágil, explorando muito bem os planos abertos para contrastar a relação do homem com a natureza. Aqui cabe ressaltar um artifício visual que foi muito bem empregado no longa-metragem: a opção por colocar na tela mensagens de texto, fotos do Instagram e conversas em vídeo.


A atuação de Blake Lively no papel principal é eficiente, conseguindo segurar um papel difícil em um filme centrado na protagonista. A trilha sonora não possui exageros, transmitindo a tensão necessária que a história necessita. Um ponto negativo que acabou pesando no resultado final da obra foi o uso exagerado dos clichês. O roteiro e a direção pecaram por escolher soluções convencionais e poderiam ter inovado mais. Mesmo assim, The Shallows consegue prender a atenção e o interesse do espectador, que ficará tenso e atento a cada detalhe da história, esperando o desfecho da dinâmica entre a presa e o predador.


Título original: The Shallows
Título em português: Águas Rasas
Diretor: Jaume Collet-Serra
http://www.imdb.com/title/tt4052882/


Turist (2014)

Vencedor do Prêmio do Júri na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes de 2014, indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro em 2015 e pré-indicado (mas não chegou às nomeações finais) como melhor filme estrangeiro ao Oscar também em 2015, o longa-metragem sueco Turist (no original) ou Força Maior (em português) acompanha o drama emocional que envolve uma família sueca em férias nos Alpes franceses após um incidente com uma avalanche.

A história se desenvolve em torno do casal Tomas (interpretado por Johannes Kuhnke, conhecido por Arven - Herança - 2003) e Ebba (protagonizada por Lisa Loven Kongsli, atuou em Engelen - 2009) e seus dois filhos, Harry e Vera (interpretados pelos irmãos Vicent Wettergren e Clara Wettergren, respectivamente), que vão passar as férias esquiando nos Alpes franceses. Tudo transcorria bem até uma avalanche controlada surpreender os turistas e a família, que almoçava à céu aberto no restaurante da estação de esqui. No início a neve deslizando montanha abaixo não parece perigosa, mas o fenômeno se intensifica e acaba instalando um terror momentâneo entre as pessoas. As reações, completamente distintas, de Tomas e Ebba frente ao perigo iminente acabam por trazer consequências muito mais devastadoras do que o efeito da avalanche em si. Enquanto ele sai correndo para salvar a sua própria vida, ela permanece no local para proteger os filhos.


O diretor e roteirista Ruben Östlund (conhecido por De Ofrivilliga - Involuntário - 2008 e Play - 2011) retrata de forma densa e profunda o drama moral e psicológico a que os personagens são expostos na trama, abordando a sexualidade, os papéis dos gêneros no núcleo familiar, os conflitos conjugais e as convenções sociais. O homem é visto na sociedade como forte e protetor, enquanto a mulher é sentimental e dependente. Existe uma série de mecanismos necessários para sustentar essas convenções, sendo problematizados e investigados no decorrer do longa-metragem.

Fredrik Wenzel é o responsável pela qualidade da fotografia, que traz um cenário alpino e uma série de imagens deslumbrantes. Os planos fixos, sobretudo a cena da avalanche, e as tomadas abertas foram feitos com maestria. Contrastando com a paisagem fria, branca e melancólica, as interações humanas transbordam vida, sendo abundantes em emoções nas cenas de discussão. A influência desse ambiente hostil na vida dos personagens é marcante. Dia após dia percebemos os diferentes estados de espírito dos integrantes da família e seus desdobramentos emocionais, que são acentuados ao som de uma trilha sonora composta de solos intensos de violinos. Aqui cabe ressaltar o ótimo desempenho dos atores principais, Lisa e Johannes.

Força Maior ainda promove uma reflexão quanto ao comportamento humano na sociedade moderna. Existe um confronto de imagem de quem somos na intimidade e o que aparentamos ser no convívio social. O Facebook e o Instagram estão repletos de fotos de momentos de felicidade e de sucesso, numa busca frenética para mostrar que levamos uma vida de perfeição. Mas a vida é feita de imperfeições, sendo que o que nos define e distingue é a forma como lidamos com elas.


A aparência é mais rica do que a realidade? Até que ponto as pessoas mostram quem realmente são para o mundo, inclusive para as pessoas mais próximas e íntimas? A imagem que temos de nós mesmos é a mesma vista pelo olhar do outro? Em situações extremas e de estresse elevado será que nós agiríamos conforme os nossos valores éticos e morais ou o instinto animal falaria mais alto? Esses são alguns dos questionamentos que Força Maior deixa no ar.



Título original: Turist
Título em português: Força Maior
Diretor: Ruben Östlund
http://www.imdb.com/title/tt2121382/

Trailer com alguns spoilers:


Bridgend (2015)

Entre 2007 e 2012 aconteceram 79 suicídios por enforcamento no condado de Bridgend, uma província de mineração de carvão no País de Gales, sendo a maior parte deles entre adolescentes. Baseado nessa trágica história real, o longa-metragem Bridgend, dirigido pelo estreante dinamarquês Jeppe Rønde que até então só fazia documentários, é uma versão fictícia desse caso. A narrativa se desenvolve em torno da protagonista Sara (interpretada por Hannah Murray, conhecida pela personagem Gilly, de Game of Thrones), uma jovem que se muda para uma pequena cidade no condado de Bridgend devido à realocação de trabalho de seu pai, o policial Dave (interpretado por Steven Waddington, atuou em The Imitation Game - O Jogo da Imitação - 2014). Por ser uma garota nova na cidade Sara não possui amigos e o seu passatempo preferido é andar no seu cavalo, Snowy. Mas aos poucos ela vai se enturmando com um grupo de jovens misteriosos que parecem estar conectados à onda de suicídios, o que provoca a preocupação de seu pai, que investiga as mortes.


Para realizar esse filme o diretor Rønde passou 6 anos pesquisando, entrevistando e acompanhando os adolescentes que moravam na região e escreveu o roteiro baseado nas histórias deles. Existem teorias sobre as mortes, mas as autoridades locais ainda não sabem o que motivou os suicídios nos quais o filme foi baseado. Outro detalhe é que o longa foi filmado no próprio condado de Bridgend. 


O filme retrata a vida imprudente dos jovens e se utiliza dos clichês que já são bastante conhecidos em representações da adolescência: festas regradas à álcool, cigarro, badernas e mergulhos no lago, numa busca pela liberdade, por experimentar sensações sem se preocupar com as consequências dos próprios atos. O conflito de gerações é outro ponto abordado e é explicitado através do distanciamento entre pais e filhos, que não conseguem interagir nem se comunicar entre si. 

Com uma atmosfera sombria e cinza, macabra e melancólica, a fotografia de Magnus Nordenhof Jønck (conhecido por seus trabalhos em Kapringen - Sequestro - 2012 e Krigen - Guerra - 2015 cria um tom claustrofóbico que faz você se sentir como se algo terrível pudesse acontecer a qualquer momento. Parte desse efeito de tensão constante é construído também pela trilha sonora de Mondkopf, que se utiliza do som eletrônico para manter o tom sufocante no longa-metragem. Bridgend lembra bastante o filme The Witch - A Bruxa (2015) pela ambientação que busca em cada enquadramento.


Apesar de contar com um elenco eficiente o filme peca por não desenvolver melhor os personagens e também pela forma que o roteiro foi escrito. A história não segue uma linha específica e acaba sendo confusa e não promovendo o entendimento necessário. A narrativa se concentra apenas na vida dos adolescentes, deixando de lado partes importantes como o posicionamento dos pais, o trabalho investigativo da polícia e como os suicídios afetam a comunidade local. Rønde foi ousado em sua proposta de retratar um assunto difícil de forma abstrata e acabou entregando um filme menor do que ele poderia ser. Principalmente pela ambientação e pela qualidade visual que são de alto nível. Talvez parte das respostas que ficaram no ar possam ser encontradas no documentário Bridgend (2013).


Título original: Bridgend
Título em português: ainda sem título
Diretor: Jeppe Rønde
http://www.imdb.com/title/tt4180576/

Trailer com alguns spoilers:


Eddie the Eagle (2016)

Algumas histórias despertam o que há de melhor dentro do ser humano, inspirando-nos a superar os nossos limites e nos ensinando a acreditar em nossos sonhos e a nunca desistir. Esse é o caso do filme Eddie the Eagle (no original) ou Voando Alto (em português), baseado na história real do inglês Michael Edwards, mais conhecido por Eddie "The Eagle" Edwards (Eddie a Águia), que desde criança tinha como sonho participar dos Jogos Olímpicos. Sem ser de uma família rica, desengonçado, tendo que lidar com problemas no joelho durante boa parte de sua infância e ainda precisando usar óculos por ser míope, suas chances de participar da Olimpíada eram mínimas. Após tentar, sem sucesso, vários tipos de esporte ao longo de sua infância e adolescência, Eddie decide se aventurar no downhill (descida livre), escolhendo os Jogos Olímpicos de Inverno de 1988 como a sua meta. Diante de uma apresentação desastrosa perante alguns patrocinadores ele é cortado da equipe olímpica de esqui da Grã-Bretanha. Desolado e prestes a desistir, Eddie aposta na categoria de ski jump (salto sobre esqui) como sua última chance de realizar seu sonho.


O cinema está repleto de filmes motivacionais que envolvem esporte. Podemos citar: 


O roteiro de Voando Alto é todo produzido em torno do protagonista, interpretado em sua infância e adolescência pelos irmãos Tom e Jack Costello, respectivamente, e em sua fase adulta pelo carismático Taron Egerton (conhecido por Kingsman: The Secret Service - Kingsman: Serviço Secreto - 2014). A atuação de Egerton pode parecer forçada, mas quando a confrontamos com o verdadeiro Eddie Edwards percebemos que ele incorporou com perfeição todos os cacoetes que o personagem exigia. Eddie é o típico anti-herói: com uma aparência que nada se assemelha à figura do herói clássico, com seu jeito nerd, esquisitão e atrapalhado, tendo usado óculos por toda a vida e um aparelho nas pernas quando era criança, o que obrigatoriamente nos remete ao filme Forrest Gump - Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994), ele é a típica pessoa pela qual ninguém daria nada. E esse talvez seja o maior acerto do filme: lidar com os nossos preconceitos e com os padrões impostos pela sociedade.


Ao tomar contato com Eddie, algum espectador acreditaria que ele seria capaz de fazer algo relevante? Mas ao longo do filme, conforme somos apresentados a um jovem que apesar dos problemas físicos, que poderiam ser usados como desculpa, é decidido e seguro de si, ingênuo e sonhador, nossas percepções e interpretações acerca do protagonista são colocadas à prova. Aquele sujeito diferente e estranho até que poderia sim fazer a diferença.

O elenco foi muito bem escolhido. A mãe de Eddie, Janette, interpretada por Jo Hartley (conhecida por Dead Man's Shoes - Vingança Redentora - 2004) é responsável por apoiar e incentivar os sonhos do filho, enquanto o pai, Terry, interpretado por Keith Allen (conhecido por Trainspotting - Trainspotting - Sem Limites - 1996) faz o papel de contraponto, lembrando Eddie das dificuldades e querendo que o filho siga os seus passos trabalhando na construção civil. Bronson Peary, o esportista problemático, que já é um clichê nesse tipo de filme, é feito por Hugh Jackman (sempre lembrado por sua interpretação do personagem Logan nos filmes da franquia X-Men). O comentarista da BBC, interpretado por Jim Broadbent (conhecido por Iris - 2001), proporciona bons momentos cômicos.


O diretor e também ator Dexter Fletcher (atuou em Kick-Ass - Kick-Ass: Quebrando Tudo - 2010) utilizou o humor para suavizar a história. Apesar da ótima fotografia, o filme abusa dos clichês e coloca algumas cenas desnecessárias. Fletcher poderia ter explorado mais as cenas de ação (os saltos de esqui) e faltou colocar o posfácio (a trajetória posterior) do Eddie ao final do filme. O roteiro fez algumas adaptações na história real em prol de uma boa narrativa, sendo as modificações retratadas (em inglês e com spoilers) neste link e nesta crítica do theguardian. A trilha sonora se encaixa bem no filme, transmitindo a emoção necessária nos diversos momentos, sejam eles de ação, drama ou suspense. A música Jump, do Van Halen, foi utilizada como analogia ao esporte praticado: ski jump (salto sobre esqui).

Eddie the Eagle é um filme sobre superação com um tom alegre, divertido e que resgata valores sociais há muito perdidos na sociedade. Nesta época em que o ter é mais importante do que o ser, na qual vencer, seja nos esportes, nos negócios ou em qualquer outra situação imposta pela vida, é mais importante do que competir, precisamos reaprender que o importante não é o destino, mas sim a jornada.



Título original: Eddie the Eagle
Título em português: Voando Alto
Diretor: Dexter Fletcher
http://www.imdb.com/title/tt1083452/



Kampen om Tungtvannet (2015)


Sucesso de crítica e de público, estabelecendo o novo recorde para séries de drama quando estreou em rede nacional de TV na Noruega, em 4 de janeiro de 2015, conquistando a audiência ao vivo de cerca de 1,2 milhão de telespectadores na noite de domingo (cerca de 24% da população norueguesa estava assistindo ao episódio de estreia), a minissérie norueguesa Kampen om Tungtvannet (no original; ainda sem título em português) retrata uma história real da Segunda Guerra Mundial. Narrada sob três pontos de vista a produção norueguesa de 6 episódios acompanha a trajetória do programa nuclear nazista, a luta dos Aliados para impedi-los e a gestão da Norsk Hydro, empresa dona da fábrica de água pesada, substância fundamental para os planos alemães.

A minissérie começa lenta, desenvolvendo os personagens e seus dilemas, além de explorar os motivos que levaram Aliados e nazistas ao conflito pela água pesada. Por quê ela era tão importante e onde seria possível obtê-la? Ao longo dos primeiros episódios toda essa trama é esclarecida.


O programa de pesquisa nazista é mostrado através dos olhos de Werner Heisenberg (interpretado por Christoph Bach, conhecido por Shirley: Visions of Reality - 2013), cientista alemão que em 1933 ganhou o prêmio Nobel de Física por sua contribuição na mecânica quântica. Heisenberg dedicou toda a sua vida à ciência, abdicando do convívio social e familiar. Em 1939 ele passa a trabalhar para o governo alemão, conduzindo a pesquisa para o desenvolvimento da energia nuclear. Ele vê a bomba atômica como um incômodo, mas um meio necessário para o desenvolvimento da ciência. A guerra estaria a serviço da ciência.


O cientista e professor universitário norueguês Leif Tronstad (interpretado por Espen Kloumann Høiner, conhecido por Reprise - Começar de Novo - 2006) foi um dos responsáveis pela construção da fábrica de produtos químicos Norsk Hydro, na planta de Vemork, nos arredores da cidade de Rjukan, na Noruega. Ao se juntar aos Aliados na Inglaterra, ele foi fundamental para impedir o sucesso dos planos nazistas, visto que era membro e mantinha contato com a Resistência Norueguesa e estava a par da planta e dos procedimentos do local. Para Tronstad as vidas dos funcionários e dos demais habitantes da região deveriam ser preservadas no conflito.


O diretor da Norsk HydroBjørn Henriksen (interpretado por Dennis Storhøi, conhecido por Zwei Leben - Duas Vidas - 2012), comanda a instalação em Rjukan, única no mundo a produzir a água pesada. Como ela era um subproduto da produção de fertilizantes, sua fabricação era limitada e em pequena escala. Enquanto os noruegueses se mantiveram neutros na Segunda Guerra Mundial, a França fez um acordo com a empresa para adquirir todo o estoque de água pesada. Mas com a invasão da Noruega pelos alemães, na manhã de 9 de abril de 1940, a Norsk Hydro passou a atender aos interesses nazistas na obtenção do precioso líquido. Para Henriksen a guerra seria algo passageiro, sendo importante manter os empregos e os negócios da empresa intactos.


Para dar maior emoção e tornar a história mais dramática foram elaborados alguns personagens fictícios, mas que não chegaram a interferir de forma significativa nos fatos reais ocorridos. Dentre eles podemos citar Bjørn Henriksen, que foi criado a partir de três diretores reais da Norsk Hydro, e sua esposa, Ellen Henriksen (interpretada por Maibritt Saerens, conhecida por Sykt Lykkelig - Happy Happy - 2010), que também não fazia parte da trama original, mas foi responsável por abordar alguns dilemas do casal além de questões morais da guerra.

Outra personagem fictícia é Julie Smith (interpretada por Anna Friel, conhecida pela série de TV Pushing Daisies - 2007-2009), que dá vida a uma oficial inglesa responsável pelas Operações Especiais britânicas. Aqui temos que destacar um erro histórico, visto que na vida real o seu papel foi exercido pelo coronel escocês John Skinner Wilson. Naquela época não havia nenhuma mulher ocupando cargo de comando no exército. Apesar da boa atuação de Friel, seria mais apropriado se ater aos fatos históricos e reais (colocar um homem no papel) ao invés de se optar pelo politicamente correto dos tempos atuais.


O diretor do filme, Per-Olav Sørensen, retrata de forma cronológica e histórica os eventos que envolveram a disputa pela água pesada. Nota-se ao longo da minissérie todo o trabalho de caracterização de uma época: uniformes, roupas, carros, equipamentos e armamento. Um ponto positivo foi a manutenção das três línguas nativas dos países envolvidos na trama: norueguês, alemão e inglês. Sørensen também soube escolher o elenco, que entregou atuações convincentes.

A fotografia é muito bonita e a trilha sonora se encaixa bem na trama. Contudo, a minissérie peca por não explorar mais algumas cenas de ação e também por não provocar mais suspense. As duras condições de sobrevivência a que foram submetidos os integrantes da Resistência Norueguesa nas missões devido ao clima severo da Noruega, como fome e frio, assim como as demais dificuldades enfrentadas ao se combater o inimigo deveriam ter sido melhor dramatizadas.  


Essa história também foi tema de um docudrama norueguês chamado Kampen om Tungtvannet (A Batalha da Água Pesada - 1948), de uma produção britânica intitulada The Heroes of the Telemark (Os Heróis de Telemark - 1965), com a participação de Kirk Douglas (citando apenas alguns de seus filmes: Ace in the Hole - A Montanha dos 7 Abutres - 1951, Paths of Glory - Glória Feita de Sangue - 1957, The Vikings - Vikings, Os Consquistadores - 1958Spartacus - 1960) e Richard Harris (conhecido por A Man Called Horse - Um Homem Chamado Cavalo - 1970) e de uma minissérie de TV canadense (A Man Called Intrepid - 1979). A banda de power metal sueca, Sabaton, também homenageou esse episódio através da música Saboteurs.




Título original: Kampen om Tungtvannet
Título em português: ainda sem título
Diretor: Per-Olav Sørensen
http://www.imdb.com/title/tt3280150/



 
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