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Busanhaeng (2016)

O cinema de terror nunca mais foi o mesmo depois da trilogia de filmes de zumbi do diretor George Andrew Romero. Em Night of the Living Dead - A Noite dos Mortos-Vivos (1968) fomos apresentados aos zumbis comedores de carne humana, numa mistura de suspense, horror e crítica social. Já no segundo filme, Dawn of the Dead - Despertar dos Mortos (1978), além da sátira social sobre paranoia e a humanidade à beira do apocalipse, explora-se o potencial cômico dos zumbis, sobretudo o humor negro. Nós somos os seres acéfalos e canibais que vagam pelas cidades. Fechando a trilogia, Day of the Dead - Dia dos Mortos (1985) continua com a crítica social e com o tom cômico, mas se apoia em um cenário mais depressivo e melancólico, além de utilizar bastante a violência gráfica. Seguindo os passos de George Romero, temos o gore (sanguinolência) Braindead - Fome Animal (1992), os de horror 28 Days Later - Extermínio (2002) e Rec (2007)e na linha de humor, Shaun of the Dead - Todo Mundo Quase Morto (2004), Zombieland - Zumbilândia (2007) Død snø - Zumbis na Neve (2009).

Já o longa-metragem sul-coreano Busanhaeng (título original) ou Invasão Zumbi (em português) foca no horror e na ação, com alguns momentos de suspense. Escrito e dirigido por Sang-ho Yeon (conhecido pela animação zumbi Seoul Station - 2016), o filme conta a história de um executivo do setor financeiro, Seok Woo (interpretado por Yoo Gong, conhecido por Do-ga-ni - 2011), que concorda em viajar com sua filha, Soo-an (representada por Soo-an Kim), da capital Seul para a cidade de Busan para que ela passe um tempo com a mãe (ex-esposa de Seok). Após embarcarem em um moderno trem expresso (KTX) os passageiros descobrem que uma epidemia está assolando a Coreia do Sul, transformando boa parte da população em zumbis. Com uma pessoa infectada a bordo e com a doença rapidamente se espalhando, pai, filha e demais passageiros precisarão lutar pela sobrevivência e por suas vidas, presos dentro de um trem de alta velocidade em movimento.

  
O diretor Sang-ho Yeon realiza um ótimo trabalho, conseguindo imergir o espectador na trama narrada. Apesar de ter a maior parte de sua ação ambientada em um trem o filme possui uma narrativa dinâmica e impressiona pelo apuro visual e técnico. Ao contrário dos zumbis lentos da trilogia de George Romero, em Busanhaeng eles são extremamente ágeis, ameaçadores e letais. Outro ponto de destaque é o elenco. Mesmo se tratando de um filme de horror os personagens são bens desenvolvidos e os atores entregam performances relevantes, sobretudo Sang Hwa (interpretado por Dong-seok Ma, conhecido por Joheunnom nabbeunnom isanghannom - Os Invencíveis  - 2008), a garota no papel da filha, Soo-an Kim, e Yoo Gong atuando como o pai. Os efeitos sonoros e a música são moderados, proporcionando sustos genuínos.

Há ainda no longa-metragem alguns elementos da cultura sul-coreana, como a obsessão com educação e estudo, e uma forte crítica à sociedade moderna. A busca pelo sucesso profissional mesmo em detrimento de momentos ao lado da família e de lazer é questionada no filme, assim como a tensão social. Conflitos morais e éticos envolvendo ter empatia ou não pelos outros e seguir ou não o instinto animal da autopreservação são explorados pelos distintos perfis dos passageiros sobreviventes.

Apesar de contar com alguns clichês do gênero zumbi, Busanhaeng é um ótimo filme de horror, com bons momentos de suspense, cenas de ação bem construídas, um elenco bem escolhido e tensão na medida certa para cativar o espectador.



Título original: Busanhaeng
Título em português: ainda sem título
Diretor: Sang-ho Yeon
http://www.imdb.com/title/tt5700672/


The One I Love (2014)

Alguns filmes conseguem mostrar que o cinema não é feito apenas de grandes produções e que mesmo com baixo orçamento e sem grandes efeitos especiais é possível produzir um ótimo filme. Esse é o caso de The One I Love (título original) ou Complicações do Amor (título em português), primeiro longa-metragem do diretor Charlie McDowell. Com um roteiro original e filmado praticamente em apenas um cenário (uma casa de campo), o espectador é cativado pela história e pelos personagens principais de tal forma que aguardará ansiosamente pelo desfecho da trama. The One I Love nos faz lembrar de um outro grande filme no mesmo estilo e que também não teve o devido reconhecimento: Coherence (2013).

A história envolve um casal, Ethan (interpretado por Mark Duplass, conhecido por Safety Not Guaranteed - Sem Segurança Nenhuma - 2012) e Sophie (representada por Elisabeth Moss, conhecida pela personagem Peggy Olson na série de TV Mad Men - Mad Men: Inventando Verdades - 2007-2015), que fazem terapia para tentar superar a grave crise conjugal em que vivem. Após uma tentativa frustrada de redescobrir o amor através de um momento importante e feliz do passado, na iminência da separação, o terapeuta (interpretado por Ted Danson, conhecido por Saving Private Ryan - O Resgate do Soldado Ryan - 1998) sugere como último artifício na tentativa de salvar o casamento do casal que eles passem um final de semana em sua casa de campo. O que começa como um retiro romântico e divertido logo se torna surreal, quando uma descoberta inesperada obriga os dois a repensarem sobre eles mesmos, seu relacionamento e seu futuro.


Esse é o típico filme que quanto menos se sabe da trama melhor é a experiência para o espectador. Apesar de ser classificado como romance, drama e ficção científica, não há um gênero predominante, existindo também passagens de suspense e mistério na história. E aqui temos que ressaltar o trabalho do diretor e o ótimo roteiro de Justin Lader, que abordam um tema que não é novo (crise conjugal) de forma criativa e envolvente. Há uma profunda abordagem sobre as dificuldades de estar junto com alguém bem como sobre as expectativas que criamos com relação ao outro e também ao novo. Houve uma preocupação em manter os dois pontos de vista da trama (a visão do homem e a da mulher) em equilíbrio, e a história não força o espectador a pender para um dos lados. A trilha sonora é sutil e às vezes passa desapercebida, mas dá o tom necessário para os diversos momentos da obra.

Uma curiosidade revelada por Duplass (que além de ator também é diretor, escritor e produtor) nesta entrevista (em inglês), foi que apesar do roteiro ter 50 páginas e ser cuidadosamente detalhado, tanto nos movimentos quanto no que os personagens estão fazendo, não havia diálogo escrito. Assim, cada pedaço de diálogo no filme foi improvisado. Os atores estavam sendo tão naturais quanto podiam com suas motivações e a trajetória da cena e usando surpresas para que o outro não se acomodasse, tornando as atuações mais espontâneas do que se fossem ensaiadas. Cabe ressaltar que a dupla de protagonistas Duplass e Moss entrega ótimas atuações tanto individualmente quanto como na relação como casal. O espectador é envolvido na narrativa e tem a impressão de que está assistindo a uma história real, com conflitos e personagens reais.


O título em inglês do longa-metragem, The One I Love, que em tradução livre seria "A pessoa que eu amo", parece inocente e genérico, mas ganha novas conotações quando contrastado com a história em si e com o poster do filme. Uma pena que a versão da tradução dada para o título em português (Complicações do Amor) tenha perdido completamente essa característica.

Com algumas reviravoltas, uma trama inteligente e intrigante e um final propositalmente aberto, The One I Love o deixará pensando sobre as suas nuances. Este é um filme que provoca a reflexão e que certamente o aguçará o suficiente para voltar na história, seja para contemplá-lo em seus detalhes ou para tentar buscar algumas respostas para as dúvidas que ficaram no ar.


Título original: The One I Love
Título em português: Complicações do Amor
Diretor: Charlie McDowell
http://www.imdb.com/title/tt2756032/


Turist (2014)

Vencedor do Prêmio do Júri na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes de 2014, indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro em 2015 e pré-indicado (mas não chegou às nomeações finais) como melhor filme estrangeiro ao Oscar também em 2015, o longa-metragem sueco Turist (no original) ou Força Maior (em português) acompanha o drama emocional que envolve uma família sueca em férias nos Alpes franceses após um incidente com uma avalanche.

A história se desenvolve em torno do casal Tomas (interpretado por Johannes Kuhnke, conhecido por Arven - Herança - 2003) e Ebba (protagonizada por Lisa Loven Kongsli, atuou em Engelen - 2009) e seus dois filhos, Harry e Vera (interpretados pelos irmãos Vicent Wettergren e Clara Wettergren, respectivamente), que vão passar as férias esquiando nos Alpes franceses. Tudo transcorria bem até uma avalanche controlada surpreender os turistas e a família, que almoçava à céu aberto no restaurante da estação de esqui. No início a neve deslizando montanha abaixo não parece perigosa, mas o fenômeno se intensifica e acaba instalando um terror momentâneo entre as pessoas. As reações, completamente distintas, de Tomas e Ebba frente ao perigo iminente acabam por trazer consequências muito mais devastadoras do que o efeito da avalanche em si. Enquanto ele sai correndo para salvar a sua própria vida, ela permanece no local para proteger os filhos.


O diretor e roteirista Ruben Östlund (conhecido por De Ofrivilliga - Involuntário - 2008 e Play - 2011) retrata de forma densa e profunda o drama moral e psicológico a que os personagens são expostos na trama, abordando a sexualidade, os papéis dos gêneros no núcleo familiar, os conflitos conjugais e as convenções sociais. O homem é visto na sociedade como forte e protetor, enquanto a mulher é sentimental e dependente. Existe uma série de mecanismos necessários para sustentar essas convenções, sendo problematizados e investigados no decorrer do longa-metragem.

Fredrik Wenzel é o responsável pela qualidade da fotografia, que traz um cenário alpino e uma série de imagens deslumbrantes. Os planos fixos, sobretudo a cena da avalanche, e as tomadas abertas foram feitos com maestria. Contrastando com a paisagem fria, branca e melancólica, as interações humanas transbordam vida, sendo abundantes em emoções nas cenas de discussão. A influência desse ambiente hostil na vida dos personagens é marcante. Dia após dia percebemos os diferentes estados de espírito dos integrantes da família e seus desdobramentos emocionais, que são acentuados ao som de uma trilha sonora composta de solos intensos de violinos. Aqui cabe ressaltar o ótimo desempenho dos atores principais, Lisa e Johannes.

Força Maior ainda promove uma reflexão quanto ao comportamento humano na sociedade moderna. Existe um confronto de imagem de quem somos na intimidade e o que aparentamos ser no convívio social. O Facebook e o Instagram estão repletos de fotos de momentos de felicidade e de sucesso, numa busca frenética para mostrar que levamos uma vida de perfeição. Mas a vida é feita de imperfeições, sendo que o que nos define e distingue é a forma como lidamos com elas.


A aparência é mais rica do que a realidade? Até que ponto as pessoas mostram quem realmente são para o mundo, inclusive para as pessoas mais próximas e íntimas? A imagem que temos de nós mesmos é a mesma vista pelo olhar do outro? Em situações extremas e de estresse elevado será que nós agiríamos conforme os nossos valores éticos e morais ou o instinto animal falaria mais alto? Esses são alguns dos questionamentos que Força Maior deixa no ar.



Título original: Turist
Título em português: Força Maior
Diretor: Ruben Östlund
http://www.imdb.com/title/tt2121382/

Trailer com alguns spoilers:


Kampen om Tungtvannet (2015)


Sucesso de crítica e de público, estabelecendo o novo recorde para séries de drama quando estreou em rede nacional de TV na Noruega, em 4 de janeiro de 2015, conquistando a audiência ao vivo de cerca de 1,2 milhão de telespectadores na noite de domingo (cerca de 24% da população norueguesa estava assistindo ao episódio de estreia), a minissérie norueguesa Kampen om Tungtvannet (no original; ainda sem título em português) retrata uma história real da Segunda Guerra Mundial. Narrada sob três pontos de vista a produção norueguesa de 6 episódios acompanha a trajetória do programa nuclear nazista, a luta dos Aliados para impedi-los e a gestão da Norsk Hydro, empresa dona da fábrica de água pesada, substância fundamental para os planos alemães.

A minissérie começa lenta, desenvolvendo os personagens e seus dilemas, além de explorar os motivos que levaram Aliados e nazistas ao conflito pela água pesada. Por quê ela era tão importante e onde seria possível obtê-la? Ao longo dos primeiros episódios toda essa trama é esclarecida.


O programa de pesquisa nazista é mostrado através dos olhos de Werner Heisenberg (interpretado por Christoph Bach, conhecido por Shirley: Visions of Reality - 2013), cientista alemão que em 1933 ganhou o prêmio Nobel de Física por sua contribuição na mecânica quântica. Heisenberg dedicou toda a sua vida à ciência, abdicando do convívio social e familiar. Em 1939 ele passa a trabalhar para o governo alemão, conduzindo a pesquisa para o desenvolvimento da energia nuclear. Ele vê a bomba atômica como um incômodo, mas um meio necessário para o desenvolvimento da ciência. A guerra estaria a serviço da ciência.


O cientista e professor universitário norueguês Leif Tronstad (interpretado por Espen Kloumann Høiner, conhecido por Reprise - Começar de Novo - 2006) foi um dos responsáveis pela construção da fábrica de produtos químicos Norsk Hydro, na planta de Vemork, nos arredores da cidade de Rjukan, na Noruega. Ao se juntar aos Aliados na Inglaterra, ele foi fundamental para impedir o sucesso dos planos nazistas, visto que era membro e mantinha contato com a Resistência Norueguesa e estava a par da planta e dos procedimentos do local. Para Tronstad as vidas dos funcionários e dos demais habitantes da região deveriam ser preservadas no conflito.


O diretor da Norsk HydroBjørn Henriksen (interpretado por Dennis Storhøi, conhecido por Zwei Leben - Duas Vidas - 2012), comanda a instalação em Rjukan, única no mundo a produzir a água pesada. Como ela era um subproduto da produção de fertilizantes, sua fabricação era limitada e em pequena escala. Enquanto os noruegueses se mantiveram neutros na Segunda Guerra Mundial, a França fez um acordo com a empresa para adquirir todo o estoque de água pesada. Mas com a invasão da Noruega pelos alemães, na manhã de 9 de abril de 1940, a Norsk Hydro passou a atender aos interesses nazistas na obtenção do precioso líquido. Para Henriksen a guerra seria algo passageiro, sendo importante manter os empregos e os negócios da empresa intactos.


Para dar maior emoção e tornar a história mais dramática foram elaborados alguns personagens fictícios, mas que não chegaram a interferir de forma significativa nos fatos reais ocorridos. Dentre eles podemos citar Bjørn Henriksen, que foi criado a partir de três diretores reais da Norsk Hydro, e sua esposa, Ellen Henriksen (interpretada por Maibritt Saerens, conhecida por Sykt Lykkelig - Happy Happy - 2010), que também não fazia parte da trama original, mas foi responsável por abordar alguns dilemas do casal além de questões morais da guerra.

Outra personagem fictícia é Julie Smith (interpretada por Anna Friel, conhecida pela série de TV Pushing Daisies - 2007-2009), que dá vida a uma oficial inglesa responsável pelas Operações Especiais britânicas. Aqui temos que destacar um erro histórico, visto que na vida real o seu papel foi exercido pelo coronel escocês John Skinner Wilson. Naquela época não havia nenhuma mulher ocupando cargo de comando no exército. Apesar da boa atuação de Friel, seria mais apropriado se ater aos fatos históricos e reais (colocar um homem no papel) ao invés de se optar pelo politicamente correto dos tempos atuais.


O diretor do filme, Per-Olav Sørensen, retrata de forma cronológica e histórica os eventos que envolveram a disputa pela água pesada. Nota-se ao longo da minissérie todo o trabalho de caracterização de uma época: uniformes, roupas, carros, equipamentos e armamento. Um ponto positivo foi a manutenção das três línguas nativas dos países envolvidos na trama: norueguês, alemão e inglês. Sørensen também soube escolher o elenco, que entregou atuações convincentes.

A fotografia é muito bonita e a trilha sonora se encaixa bem na trama. Contudo, a minissérie peca por não explorar mais algumas cenas de ação e também por não provocar mais suspense. As duras condições de sobrevivência a que foram submetidos os integrantes da Resistência Norueguesa nas missões devido ao clima severo da Noruega, como fome e frio, assim como as demais dificuldades enfrentadas ao se combater o inimigo deveriam ter sido melhor dramatizadas.  


Essa história também foi tema de um docudrama norueguês chamado Kampen om Tungtvannet (A Batalha da Água Pesada - 1948), de uma produção britânica intitulada The Heroes of the Telemark (Os Heróis de Telemark - 1965), com a participação de Kirk Douglas (citando apenas alguns de seus filmes: Ace in the Hole - A Montanha dos 7 Abutres - 1951, Paths of Glory - Glória Feita de Sangue - 1957, The Vikings - Vikings, Os Consquistadores - 1958Spartacus - 1960) e Richard Harris (conhecido por A Man Called Horse - Um Homem Chamado Cavalo - 1970) e de uma minissérie de TV canadense (A Man Called Intrepid - 1979). A banda de power metal sueca, Sabaton, também homenageou esse episódio através da música Saboteurs.




Título original: Kampen om Tungtvannet
Título em português: ainda sem título
Diretor: Per-Olav Sørensen
http://www.imdb.com/title/tt3280150/



Kampen om Tungtvannet (1948)

A Segunda Guerra Mundial teve vários episódios importantes, mas com o passar dos anos muitos deles ficaram esquecidos ou não tiveram o devido reconhecimento. Além da famosa invasão da Normandia pelos Aliados, operação conhecida por "Dia D", a Batalha da Água Pesada também teve papel fundamental para o desfecho dessa guerra. Dirigido por Titus Vibe-Müller e Jean Dréville, em uma coprodução franco-norueguesa, Kampen om Tungtvannet (no original) ou A Batalha da Água-Pesada (em português) é um docudrama (drama documentário) que apresenta de forma dramática a reconstituição desses fatos que marcaram a história do mundo e da Noruega.

O filme começa fazendo uma introdução à guerra e aos motivos que levaram França e Alemanha a se interessarem pela água pesada, produzida somente na fábrica de produtos químicos Norsk Hydro, na planta de Vemork, nos arredores da cidade de Rjukan, na Noruega. O primeiro país buscava fazer pesquisas em laboratórios sobre sua eficácia, enquanto o segundo objetivava obtê-la para construir uma arma secreta. Como a água pesada era um subproduto da produção de fertilizantes, sua fabricação era limitada e em pequena escala, o que fazia com que qualquer quantidade obtida se tornasse de suma importância. Enquanto os noruegueses se mantiveram neutros na guerra, os Aliados conseguiram pegar o primeiro suprimento do precioso líquido. Mas com a invasão da Noruega pelos alemães, na manhã de 9 de abril de 1940, os nazistas ordenaram que a fábrica de Norsk Hydro aumentasse a sua produção. Percebendo a ameaça que a planta apresentava, a Inteligência Britânica em Londres juntamente com a Resistência Norueguesa se uniram para tomar medidas preventivas e sabotar os planos da Alemanha nazista envolvendo a água pesada.  


Filmado em preto e branco e sem os aspectos das grandes produções, como situações de ação extravagantes e enfoque melodramático, Kampen om Tungtvannet utiliza imagens de arquivo e reconstrói as demais cenas com a participação dos próprios homólogos da vida real. Isso lhe confere bastante realismo e autenticidade, além de um caráter histórico e educativo. Dentre os atores homólogos podemos citar os cientistas Frédéric Joliot-Curie e Lew Kowarski e os sabotadores noruegueses em sua grande maioria. Assim, poucos personagens foram interpretados por atores profissionais e optou-se por manter as quatro línguas nativas dos países envolvidos na trama: norueguês, francês, alemão e inglês. E é exatamente o aspecto comum que faz com que esse filme se destaque, principalmente quando nos lembramos do que estava em jogo naquele momento. Estes não são heróis sintéticos que encontramos em blockbusters americanos, são apenas homens comuns que arriscaram as suas vidas para impedir que a Alemanha nazista vencesse.

A fotografia explora a região montanhosa e o clima severo da Noruega através de tomadas abertas. As duras condições de sobrevivência a que foram submetidos os integrantes da Resistência Norueguesa se equiparam ao tamanho do desafio que estava pela frente: impedir que os alemães construíssem a sua arma secreta. Eles enfrentaram a fome, o frio e também o inimigo.  


Essa história também foi dramatizada em uma produção britânica intitulada The Heroes of the Telemark (Os Heróis de Telemark - 1965), com a participação de Kirk Douglas (citando apenas alguns de seus filmes: Ace in the Hole - A Montanha dos 7 Abutres - 1951, Paths of Glory - Glória Feita de Sangue - 1957, The Vikings - Vikings, Os Consquistadores - 1958 e Spartacus - 1960) e Richard Harris (conhecido por A Man Called Horse - Um Homem Chamado Cavalo - 1970) e em duas minisséries de TV, uma canadense (A Man Called Intrepid - 1979) e uma norueguesa (Kampen om Tungtvannet - 2015). A banda de power metal sueca, Sabaton, também homenageou esse episódio através da música Saboteurs.

A guerra não é ganha só nas trincheiras ou nos frontes de batalha, sendo travada por combates de artilharia, mas pela mobilização econômica, social e mental na retaguarda. Ela é vencida pelas estratégias adotadas e pela resiliência, bravura e sagacidade de todos os seus combatentes.


Título original: Kampen om Tungtvannet
Título em português: A Batalha da Água Pesada
Diretores: Titus Vibe-Müller e Jean Dréville
http://www.imdb.com/title/tt0040504


Málmhaus (2013)


Filmes sobre dramas familiares já são comuns no cinema, mas a escolha do diretor e escritor islandês Ragnar Bragason (conhecido por Bjarnfreðarson - 2009) de colocar o heavy metal no primeiro plano foi uma inovação, fazendo com que Málmhaus (no original) ou Mundando o Destino (em português) se destaque em relação às demais narrativas semelhantes. A história mostra como a perda de um filho em um trágico acidente pode afetar a vida de uma família e também de toda uma pequena comunidade na área rural da Islândia. A protagonista da trama é Hera, interpretada por Þorbjörg Helga Þorgilsdóttir (conhecida por Djúpið - Sobrevivente - 2012), que testemunhou a morte do irmão mais velho por um trator quando tinha apenas 12 anos, em 1983. Traumatizada, descrente da vida e com a sua fé completamente abalada, ela decide buscar conforto no heavy metal, estilo musical que seu irmão tanto adorava.

Após essa introdução inicial, Bragason nos transporta para o início dos anos 90, abordando a personagem principal já em idade adulta. Com aparência soturna e melancólica, sempre usando uma jaqueta de couro e roupas pretas, Hera agora está completamente adepta ao modo de vida do black metal. Ela se isolou do mundo exterior e está desconectada da pequena comunidade em que vive. Seus únicos momentos de equilíbrio parecem ser ao lado de sua guitarra, com a qual se arrisca a compor suas próprias músicas, ou quando escuta suas fitas cassetes ou lê revistas especializadas em seu quarto.


A presença de Hera é perturbadora para os seus pais. Sem conseguir se libertar emocionalmente e psicologicamente das memórias da tragédia, ela vive cometendo pequenos delitos em atos autodestrutivos e causando confusão na vizinhança. Seu modo de vestir e sua personalidade também são uma forma dolorosa de seus pais se lembrarem do filho morto. Isso se reflete na depressão de sua mãe, Droplaug, interpretada por Halldóra Geirharðsdóttir (conhecida por Englar alheimsins - 2000 e  Hross í oss - 2013), e no sofrimento oculto de seu pai, Karl, representado por Ingvar Eggert Sigurðsson (atuou em Englar alheimsins - 2000, Mýrin - 2006, Hross í oss - 2013 e Everest - Evereste - 2015). Assim, cada um vivencia o luto e a dor à sua própria maneira, mas é evidente que aquele acidente comprometeu a harmonia da família.

Com uma peculiar visão intimista dos movimentos heavy metal e black metal, Bragason realiza em Málmhaus uma produção com características bastante pessoais, imprimindo em todo o roteiro referências cuidadosamente citadas e associadas à trilha sonora. É através da música que o diretor expressa e expõe o estado psicológico e emocional da protagonista, desde seus sentimentos até seus conflitos internos. Fãs do gênero, além de reconhecer as canções, poderão se deleitar com Victim of Changes (Judas Priest), Heartless World (Teaze), Run For Your Life (Riot), Strange Wings (Savatage), Me Against the World (Lizzy Borden), Am I Evil? (Diamond Head), Symphony of Destruction (Megadeth), Í Helli Loka (Sólstafir) e Svarthamar (Pétur Ben & Þorbjörg Helga Þorgilsdóttir - Málmhaus).


O simbolismo está presente em todo o longa-metragem. Seja nas roupas, nas músicas, na melancolia ou na obscuridade, no corpse paint (pintura facial em preto e branco), na morte, na religião, nos cenários, como a igreja ou o cemitério, no frio intenso do inverno, e até nos personagens noruegueses, numa referência a Øystein Aarseth (Euronymous) e Per Yngve Ohlin (Dead), membros fundadores da banda norueguesa de black metal Mayhem, terra que criou a subcultura do black metal norueguês. Alguns documentários abordam e retratam essa época, como Den Svarte Alvor - A Seriedade Negra (1994), Satan Rir Media - Satã Monta a Mídia (1998), Once Upon a Time in Norway - Era uma vez na Noruega (2007) Until the Light Takes Us - Até que a Luz nos Leve (2008).

O apego aos detalhes de época é outro ponto forte do filme, conferindo-lhe certa nostalgia dos anos 80 e 90. Temos a vitrola e os discos de vinil, as fitas cassetes e o walkman, os aparelhos eletrodomésticos, como o microondas, a TV de tubo e as fitas de vídeo VHS e os carros, todos retratando fielmente o período em questão. Os belos planos da Islândia e os momentos de humor negro suavizam o delicado tema abordado na narrativa, contrastando com a desolação interior da protagonista. A atuação de Þorbjörg Helga Þorgilsdóttir é um dos grandes destaques da narrativa, conferindo veracidade à história da personagem principal.

Mundando o Destino é um filme que se apoia num tema universal, a música, para mostrar como as pessoas lidam com a dor, a perda e o sofrimento. A história mostra a busca por uma identidade e por si mesmo, numa tentativa de encontrar significado para a vida que vá além da música. 


Título original: Málmhaus
Título em português: Mudando o Destino
Diretor: Ragnar Bragason
http://www.imdb.com/title/tt2374902/


Kill the Messenger (2014)


Seguindo a mesma linha de jornalismo investigativo de All the President's Men - Todos os Homens do Presidente - 1976, mas por algum motivo sem o devido reconhecimento e repercussão, Kill the Messenger (no original) ou O Mensageiro (em português) conta a história real do repórter americano Gary Webb (interpretado por Jeremy Renner, conhecido por The Hurt Locker - Guerra ao Terror - 2008), que trabalha em um pequeno jornal, San José Mercury News, e acidentalmente descobre documentos sigilosos sobre o governo americano e a guerra às drogas. Diante dessas informações, que revelam um suposto esquema de tráfico de cocaína para dentro dos Estados Unidos, ele precisa decidir entre proteger sua carreia, família e própria vida ou se arriscar a desmascarar o caso e publicar a matéria.

Logo de cara somos apresentados, em um formato que se assemelha ao de um documentário, a uma série de reportagens de jornais e discursos presidenciais, desde Richard Nixon (1969-1974), passando por Gerald Ford (1974-1977), Jimmy Carter (1977-1981) até chegarmos a Ronald Reagan (1981-1989). Todos eles discursam contra o tráfico e o consumo de drogas. Essa exposição facilita a imersão do espectador na história e confere maior veracidade aos fatos. Posteriormente, somos transportados para o ano de 1996 e acompanhamos a investigação promovida pelo protagonista, passando de um suspeito a outro, de traficantes a até mesmo políticos, e a cada nova revelação podemos contrastar o discurso inicial do governo com a realidade nua e crua dos fatos.

   
Seguimos, passo a passo, tudo o que Gary Webb precisa fazer para garantir que o público tenha conhecimento sobre algo que era mantido sigiloso: observação, entrevistas e levantamento documental. Um jornalista não pode simplesmente denunciar uma situação corrupta só porque alguém lhe sugeriu ou porque lhe parece que é incorreta. Até a matéria se tornar concreta e ser publicada existe um processo a ser seguido, no qual o repórter revisa todo o material investigativo, avaliando se há necessidade de entrevistar novas fontes ou fazer novas consultas, até que todas as informações conflitantes estejam resolvidas. Sobretudo se houver menções a figuras públicas, grandes corporações, políticos e governos, o jornalista também deverá se certificar, em casos de processos, que receberá o apoio jurídico e suporte editorial para publicação da matéria. Nesse ponto temos que destacar a direção de Michael Cuesta (conhecido pela série de TV Homeland - 2011-2012), que deixou alguns pontos em aberto para que o espectador tirasse as suas próprias conclusões acerca da investigação de Webb. Teria sido ele ingênuo ou desleixado?

O roteiro foi baseado no livro Dark Alliance: The CIA, The Contras, and the Crack Cocaine Explosion, escrito pelo próprio Webb, e no livro Kill the Messenger, uma biografia feita por Nick Schou. O elenco, além de contar com a ótima atuação de Jeremy Renner no papel principal, possui nomes de peso como Mary Elizabeth Winstead (10 Cloverfield Lane - Rua Cloverfield, 10 - 2016), Michael Sheen (Midnight in Paris - Meia-Noite em Paris - 2011), Ray Liotta (Goodfellas - Os Bons Companheiros - 1990) e Andy Garcia (The Godfather: Part III - O Poderoso Chefão III - 1990). 

Kill the Messenger ainda se destaca ao denunciar as pressões, chantagens, violências física e psicológica que os jornalistas investigativos sofrem ao realizar o seu trabalho. Não apenas a integridade do homem é atingida, como também a de sua família. A manipulação da informação é evidente. Artifícios como atacar a credibilidade desses profissionais são utilizados sem o menor pudor para abafar a verdade, visto que a fofoca muitas vezes passa a ser mais importante (ganha mais destaque) do que a denúncia em si.

Existe liberdade de impressa? A mídia é livre ou sofre influência política, econômica e social? Qual é o verdadeiro papel do jornalista? Algumas histórias são verdadeiras demais para serem contadas? A inidoneidade de algumas fontes invalida completamente uma matéria a ponto de torná-la uma mentira? Estaria o governo americano boicotando a divulgação dessa história (filme)? Esses são alguns dos questionamentos que O Mensageiro deixa no ar.

Diante de situações recentes, como os Panama Papers e das revelações de Edward Snowden e do Wikileaks, toda a reflexão e o desdobramento trazidos pela trama contada em Kill the Messenger ganham outras camadas de importância e significado.




Título original: Kill the Messenger
Título em português: O Mensageiro
Diretor: Michael Cuesta
http://www.imdb.com/title/tt1216491/



Green Room (2015)

Um filme com crime, suspense, horror e punk rock: tem como ainda ficar melhor? Sim, tem! Ainda somos agraciados com as atuações de Patrick Stewart (conhecido por suas interpretações do capitão Jean-Luc Picard em Star Trek: The Next Generation - Jornada nas Estrelas: A Nova Geração - 1987-1994 e do professor Charles Xavier nos filmes do X-Men) e de Anton Yelchin (mencionando apenas alguns de seus últimos trabalhos: The Driftless Area - O Mistério de Stella - 2015, We Don't Belong Here - 2016Star Trek Beyond - Star Trek: Sem Fronteiras - 2016 e Porto - 2016). O longa-metragem Green Room (no original) ou Sala Verde (em português) ainda ganha maior importância por ser um dos últimos trabalhos em que poderemos ver o ator Anton Yelchin, falecido em 19 de junho de 2016, aos 27 anos, prensado por seu próprio carro contra uma caixa de correio de concreto na casa onde morava.

Dirigido e escrito por Jeremy Saulnier (Blue Ruin - 2013), Green Room conta a história de quatro jovens músicos, Pat (Anton Yelchin), Sam (Akia Shawkat), Tiger (Callum Turner) e Reece (Joe Cole), integrantes da banda de punk rock Ain't Rights. Com o fracasso de público na turnê e a mancada feita pelo produtor com o pagamento do show, os jovens vão se apresentar pela última vez para uma plateia de neonazistas num clube de beira de estrada nos arredores de Portland. Após o show, por um azar, eles presenciam um crime no camarim. Como as únicas testemunhas, são impedidos pelos contratantes de deixar o local, sendo trancados em uma sala. Vivendo a noite mais hardcore de suas vidas, podem eles confiar na promessa do dono do clube, Darcy (Patrick Stewart), de que tudo acabará bem?


Dois dos elementos chaves que o diretor emprega para construir a obra são a tensão e o nervosismo, utilizando-se do clima claustrofóbico de aprisionamento para criar alguns momentos inquietantes. O tom obscuro da fotografia é fundamental nesse processo, apoiando-se em ambientes pouco iluminados e sujos, além do uso da violência gráfica, para chocar o espectador. A trilha sonora é bem sutil, quase passando desapercebida em alguns momentos.

Outro chamariz, para os adeptos, é todo o trabalho de caracterização de uma banda de punk rock. Os integrantes da Ain't Rights viajam em um furgão, vivem com pouco dinheiro e em função do sonho de poderem ganhar a vida com sua música e arte. Como todo jovem músico no início de carreira, apresentam-se em espeluncas por poucos trocados e participam do cenário underground (alternativo) das cidades. Um momento engraçado e divertido do longa é quando a banda toca a música cover Nazi Punks Fuck Off, de autoria do Dead Kennedys, numa visível provocação aos neonazistas presentes.


O elenco foi bem escolhido e aqui temos que destacar as atuações de Anton Yelchin e Patrick Stewart. Interpretando duas forças antagônicas, o primeiro é sensível e intenso, enquanto o segundo é frio, calmo e meticuloso. Stewart, dando vida ao personagem de Darcy, impõe respeito e desperta medo.

Green Room é um filme com um roteiro simples: estar na hora e no local errados. Mesmo com baixo orçamento, o diretor consegue ser bem eficiente em retratar o pesadelo dos quatro jovens. Vale a pena acompanhar os próximos passos cinematográficos de Saulnier.


Título original: Green Room
Título em português: Sala Verde
Diretor: Jeremy Saulnier

http://www.imdb.com/title/tt4062536/



 
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