A Escandinávia sempre nos surpreende com filmes diferentes e com enredos bem peculiares. Baseado no livro best-seller de Fredrik Backman, En Man som Heter Ove (título original) ou Um Homem Chamado Ove (em português) conta a história de Ove, um velho viúvo e rabugento, de 59 anos de idade, que apesar de ter sido deposto há alguns anos do cargo de presidente da associação de moradores continua a zelar pela vizinhança do subúrbio onde mora com punhos de ferro. Deprimido, solitário e cansado da monotonia do cotidiano, Ove é um retrato de uma pessoa que já desistiu de tudo, inclusive de si mesmo. Teimoso, mal-humorado, com crenças firmes e rotinas rígidas, sua abordagem de vida e visão negativa do mundo são colocadas à prova quando uma nova família se muda para a casa em frente.
Falar sobre a velhice e seus dilemas nunca foi um tema fácil, tanto na vida real quanto nas telas de cinema. Algumas vezes parece que a sociedade quer evitá-la ou esquecê-la, como se fosse um drama distante à qual nunca chegaremos ou passaremos. Assim, é comum que atores com idade avançada ocupem personagens coadjuvantes, com papéis que passam longe do foco da narrativa apresentada. Contudo, quando tiveram a oportunidade de estrelar no papel principal deram luz a grandes personagens e a ótimos filmes. Dentre eles temos: Make Way for Tomorrow - A Cruz dos Anos (1937), Umberto D. - Humberto D. (1952), Ikiru - Viver (1952), Smultronstället - Morangos Silvestres (1957), Cocoon (1985), Börn Náttúrunnar - Filhos da Natureza (1991), Grumpy Old Men - Dois Velhos Rabugentos (1993), The Straight Story - Uma História Real (1999), Elsa y Fred - Elsa & Fred (2005), Gran Torino (2008), Amour - Amor (2012), Nebraska (2013), 45 Years - 45 Anos (2015) e a animação Up - Up: Altas Aventuras (2009).
Com uma história sincera, poética e bem-humorada, o diretor e também escritor sueco Hannes Holm (conhecido por Adam & Eva - 1999, Klassfesten - O Reencontro - 2002 e Himlen är Oskyldigt Blå - 2010) consegue abordar um tema sensível de uma maneira sutil. O humor é uma das peças chave utilizadas nesse processo, estando presente em vários momentos ao longo do filme. Mas também somos expostos à situações tristes e duras conforme a história se revela.
A ação se desenrola tanto no presente quanto no passado. De início somos apresentados à versão mais velha de Ove, interpretada por Rolf Lassgård (conhecido por Jägarna - 1996, Under Solen - 1998 e Efter Brylluppet - Depois do Casamento - 2006). Já nas primeiras impressões nos deparamos com um sujeito áspero, irritante, sem bondade e que é o terror de sua vizinhança suburbana. Ele patrulha diariamente as ruas e calçadas em busca de irregularidades e descumprimentos de regras, que devem ser seguidas com rigor. Posteriormente, através do uso de flashbacks, somos introduzidos à sua versão criança (Viktor Baagøe) e jovem (Filip Berg, conhecido por Ondskan - Evil - Raízes do Mal - 2003 e Odödliga - 2015). Assim, paulatinamente, o seu passado é revelado, explicando o seu comportamento atual, o que nos faz refletir e reavaliar as nossas opiniões sobre o personagem principal.
O filme aborda conceitos e questões atuais, como imigração, globalização e mudança de valores ao longo das gerações. Parvaneh, interpretada por Bahar Pars (atuou em När Mörkret Faller - 2006), tem origem persa e é a mulher da família que se muda para a casa em frente a do protagonista. Contrastando com a personalidade de Ove, ela é passional e opinativa, sendo responsável por trazer calor às relações frias do protagonista. Parvaneh retrata o caso de tantos outros refugiados que emigram para países europeus em busca de uma vida melhor.
A identificação do personagem principal com os carros da Saab e a consequente disputa com os automóveis da Volvo, duas marcas originalmente suecas, representa o nacionalismo. Ove era de uma época em que os produtos (bens de consumo) eram feitos dentro do próprio país. Hoje, com as cadeias globais de valor e com a internacionalização da economia, as mercadorias não têm mais fronteiras e as marcas se tornaram globais. Metade da Saab foi comprada pela General Motors em 1990 e o restante em 2000. Em 2012, a empresa foi comprada pela chinesa National Electric Vehicle Sweden AB. Quanto à Volvo, em 1999 foi vendida à Ford Motor Company. No ano de 2010, a Ford acertou a venda da Volvo para a chinesa Zhejiang Geely Holdin Group.
Ove, como um menino de cidade pequena, viveu em um tipo diferente de Suécia e de mundo. Além da vida ter ritmo mais lento, valorizava-se mais a independência e as habilidades manuais, como carpintaria e mecânica. As dificuldades das gerações mais novas são expressas, por exemplo, na falta de interesse e paciência para a leitura de manuais ou no desafio que se torna instalar uma simples máquina de lavar.
Além da ótima atuação de Rolf Lassgård no papel caricatural do protagonista, a trilha sonora é um deleite a parte. Envolvente, ela é cativante nos momentos da ronda pela vizinhança e sentimental nas cenas de drama. Todo o trabalho de produção foi muito bem feito, desde as câmeras, fotografia, até o figurino ao longo das eras. Aqui temos que ressaltar um ponto fraco no roteiro e na direção. Apesar da primeira metade do filme ser ótima, conforme a história se desenvolve e sua mensagem e significado são explicitados, o diretor se apressa para concluir a trama do livro e o longa-metragem acaba perdendo alguns de seus pontos fortes na segunda metade. Alguns elos narrativos deveriam ter sido melhor trabalhados, como a mudança por que passa o personagem principal e como a comunidade local passa a enxergá-lo depois disso. Como mensagem final Holm ainda nos passa que a vida faz mais sentido quando é compartilhada com outras pessoas. O filme tinha potencial para ser muito mais do que foi.
Ove, como um menino de cidade pequena, viveu em um tipo diferente de Suécia e de mundo. Além da vida ter ritmo mais lento, valorizava-se mais a independência e as habilidades manuais, como carpintaria e mecânica. As dificuldades das gerações mais novas são expressas, por exemplo, na falta de interesse e paciência para a leitura de manuais ou no desafio que se torna instalar uma simples máquina de lavar.
Além da ótima atuação de Rolf Lassgård no papel caricatural do protagonista, a trilha sonora é um deleite a parte. Envolvente, ela é cativante nos momentos da ronda pela vizinhança e sentimental nas cenas de drama. Todo o trabalho de produção foi muito bem feito, desde as câmeras, fotografia, até o figurino ao longo das eras. Aqui temos que ressaltar um ponto fraco no roteiro e na direção. Apesar da primeira metade do filme ser ótima, conforme a história se desenvolve e sua mensagem e significado são explicitados, o diretor se apressa para concluir a trama do livro e o longa-metragem acaba perdendo alguns de seus pontos fortes na segunda metade. Alguns elos narrativos deveriam ter sido melhor trabalhados, como a mudança por que passa o personagem principal e como a comunidade local passa a enxergá-lo depois disso. Como mensagem final Holm ainda nos passa que a vida faz mais sentido quando é compartilhada com outras pessoas. O filme tinha potencial para ser muito mais do que foi.
Título original: En Man som Heter Ove
Título em português: Um Homem Chamado Ove
Diretor: Hannes Holm
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